Principais Estudos Publicados em 2009
 

Rosuvastatina para Previnir Eventos Vasculares em Homens e Mulheres com Proteína C Reativa Elevada – o Estudo JUPITER

O uso de rosuvastatina 20 mg/d reduziu a ocorrência de eventos cardiovasculares em pacientes de risco cardiovascular baixo ou intermediário tratados por um período médio de quase 2 anos.

Contexto Clínico

As diretrizes atuais para prevenção de doença cardiovascular recomendam terapia com estatina somente para os pacientes com doença cardiovascular estabelecida, diabéticos e portadores de dislipidemias.
A Proteína C Reativa (PCR) é um biomarcador inflamatório, que é capaz de predizer eventos cardiovasculares futuros de forma independente, melhorando a estratificação de risco independente dos fatores de risco tradicionais. Alguns estudos mostraram que a terapia com estatina também reduz os níveis de PCR.
O objetivo do estudo JUPITER foi avaliar se indivíduos de baixo risco cardiovascular, , com níveis de colesterol sem recomendação para a introdução de terapia hipolipemiante, mas com PCR elevada, se beneficiariam do uso de rosuvastatina 20 mg/dia comparado ao placebo.

Estudo

JUPITER foi um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego, placebo-controlado, que selecionou 17.802 pacientes aparentemente saudáveis. No estudo foram incluídos homens  50 anos ou mulheres  60 anos sem diabetes ou doença cardiovascular prévia, com níveis de LDL colesterol abaixo de 130 mg/dl, cujo único indicador de risco aumentado era a PCR > 2,0 mg/l.
Os critérios de exclusão foram uso prévio ou atual de estatina, terapia de reposição hormonal, evidência de disfunção hepatica, níveis elevados de CPK, insuficiência renal (creatinina > 2,0 mg/dl), hipertensão não controlada, câncer nos últimos 5 anos, doenças inflamatórias ou uso de agentes imunossupressores.
O desfecho primário do estudo foi a ocorrência do primeiro evento cardiovascular, definido como morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM) não-fatal, acidente vascular cerebral (AVC) não-fatal, angina instável, ou revascularização por angioplastia ou cirúrgica. Os desfechos secundários foram cada componente isolado do desfecho do primário e mortalidade por todas as causas.

Resultados

O estudo foi interrompido de forma precoce após uma média de seguimento de 1,9 anos. O uso de rosuvastatina reduziu o LDL colesterol em 50% e os níveis de PCR em 37%. A rosuvastatina reduziu o desfecho primário em 44% (95%CI 0,46-0,69; P<0,00001), IAM fatal ou não-fatal em 54% (95%CI 0,30-0,70; P<0,0002), AVC em 48% (CI 0,34-0,79; P<0,002), angina instável com necessidade de revascularização em 47% (CI 0,40-0,70;P<0,00001) e redução de mortalidade por todas as causas de 20% (CI 0,67-0,97 P=0,02).
Não houve diferença na incidência de miopatias ou câncer entre os grupos, mas houve um aumento não esperado de diabetes no grupo tratado com rosuvastatina (3,0% vs. 2,4%; P=0,01).

Aplicações Práticas

O estudo apresenta algumas limitações como a não inclusão de pacientes com PCR baixa e o término do estudo antes do previsto (< 2 anos). A inclusão exclusiva de pacientes com PCR elevada não permitiu correlacionar o benefício da terapia à redução do PCR ou do colesterol LDL. A interrupção precoce pode também ter superestimado a diferença entre os grupos e não sabemos o benefício a mais longo prazo.
Os resultados expressivos do estudo, no entanto, pode ampliar a indicação para tratamento com estatinas numa população não contemplada atualmente pelos consensos. Recentemente, o FDA aprovou a ampliação da indicação da rosuvastatina para pacientes com LDL colesterol normal, mas, com risco cardiovascular baixo ou moderado baseado nos demais fatores de risco, principalmente a PCR.
Algumas questões permanecem em aberto como o uso da PCR na prática clínica e , a custo-efetividade do tratamento

Conclusão

O estudo mostrou que indivíduos aparentemente saudáveis, com níveis normais de colesterol e PCR elevada se beneficiam do uso de 20 mg/dia de rosuvastatina.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Ridker PM, Danielson E, Fonseca FAH et al. Rosuvastatin to prevent vascular events in men and women with elevated C-reactive protein. N Engl J Med 2008; 359:2195-2207.
2. Hlatky MA. Expanding the orbit of primary prevention- moving beyond JUPITER. N Engl J Med 2008; 359:2280-2282.
 

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