Principais Estudos Publicados em 2009
 

STICH – A reconstrução ventricular cirúrgica associada à cirurgia de revascularização miocárdica não diminuiu a mortalidade e a hospitalização por eventos cardíacos, em relação à cirurgia de revascularização miocárdica isoladamente, para pacientes com doença arterial coronariana e disfunção sistólica do ventrículo esquerdo.

Racional do estudo: A doença arterial coronariana (DAC) é a principal causa de insuficiência cardíaca, e esta é a maior causa de morbimortalidade no mundo. A disfunção miocárdica que ocorre após o infarto agudo do miocárdio é tipicamente acompanhada de um remodelamento ventricular, processo que resulta em aumento mudanças na geometria da cavidade. Este remodelamento é associado à progressão da insuficiência cardíaca e a um pior prognóstico. A cirurgia de reconstrução ventricular (RV) foi desenvolvida para pacientes com remodelamento ventricular por doença arterial coronariana. O procedimento reduz o volume cavitário, aumenta a fração de ejeção (FE) e melhora a função ventricular esquerda. O estudo STICH foi conduzido para saber se a RV, associada à cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM), diminui as taxas de morte e re-hospitalização por causas cardíacas, comparadas à CRVM isolada.

O STICH (Surgical Treatment for Ischemic Heart Failure) foi um estudo randomizado e multicêntrico que incluiu 1000 pacientes, de 127 centros, em 26 países, entre setembro de 2002 e janeiro de 2006, e comparou a cirurgia de reconstrução ventricular (RV) associada à cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM) e a CRVM isoladamente, em pacientes com doença arterial coronariana (DAC) e disfunção ventricular esquerda sistólica.

Os pacientes incluídos no estudo tinham DAC com indicação de CRVM, fração de ejeção (FE) ≤ 35%, acinesia anterior ou discinesia do ventrículo esquerdo, elegíveis para a RV. O desfecho primário do estudo foi uma composição de morte por qualquer causa e reinternação por doença cardíaca. O seguimento médio desses pacientes foi de 48 meses. Um total de 1000 pacientes foi dividido aleatoriamente para o grupo CRVM isolada (499 indivíduos) ou para o grupo CRVM + RV (501indivíduos). Não havia diferença estatística entre as características clínicas e demográficas entre os grupos. Os pacientes tinham com média de idade de 62 anos e 14,7% eram mulheres. A FE média era 28%. O procedimento foi eletivo em 84% dos pacientes, de urgência em 13% e de emergência em 1% dos casos.

Durante os 48 meses de seguimento, ao houve redução significativa no desfecho primário em ambos os grupos (58% de morte por qualquer causa ou re-hospitalização por causas cardíacas no grupo CRVM + RV, contra 59% no grupo CRVM isolada (HR 0,99; IC 95% 0,84 a 1,17; p=0,90). Entre os desfechos secundários, as taxas de óbito perioperatório, IAM e AVC foram baixos e similares em ambos os grupos. Os sintomas de angina melhoraram em média 1,7 classes da Sociedade Canadense de Cardiologia (CCS; p=0,84) e os de insuficiência cardíaca em 1,0 classes da New York Heart Association (NYHA; p=0,70) em ambos os grupos. Também não houve diferença estatística no aumento da distância da caminhada de 6 minutos (p=0,80).

Porém, os indivíduos do grupo CRVM + RV apresentaram reduções maiores (p<0,001) no volume diastólico final (redução média de 19%; 83 para 67mL/m2); comparados com aqueles que realizaram apenas CVRM (6%; 82 para 77mL/m2). Também houve diferença significativa em relação ao tempo dos procedimentos. No grupo CRVM + RV, os tempos de cirurgia (5,5 vs 4,9h no grupo CRVM isolada; p<0,001), e de circulação extracorpórea (124 vs 99 min no grupo CRVM isolada; p<0,001) foram maiores.

Os investigadores concluíram que a RV não é justificada na população estudada. Os resultados do estudo STICH foram publicados na edição de 23 de abril de 2009 da The New England Journal of Medicine.

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