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Crise na saúde do Rio: o corte de investimentos que mata.

Autor: Dr. Bruno Paolino



A crise financeira que assola o Brasil nos últimos dois anos tem provocado corte de investimentos e piores índices de qualidade de vida em todo o país. O Rio de Janeiro, no entanto, vive esta crise de maneira ainda mais intensa, motivada pela redução dos preços do petróleo e dos investimentos da Petrobrás. Analisando de forma racional a queda das receitas, não há dúvidas da dificuldade de manter todos os investimentos, mesmo os essenciais. Porém, o corte das verbas das universidades como a solução para os combalidos cofres públicos é, definitivamente, um grande erro estratégico em todas as esferas governamentais.

O Rio de Janeiro possui uma extensa rede de universidades públicas que estão agonizando frente ao corte de verbas. As duas maiores universidades públicas do estado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apresentam graves problemas orçamentários. A UFRJ teve um déficit de R$ 125 milhões em 2015, o maior entre as 15 maiores universidades federais, e a UERJ cortou R$ 91 milhões do seu orçamento em 2015, além de prever o contingenciamento de R$ 530 milhões, metade do seu orçamento, para 2016. E estas dificuldades acertam em cheio a saúde do estado: todo um andar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ) está desativado e o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE-UERJ) apresenta mais da metade dos seus 500 leitos inativos, além de precariedades do serviço de limpeza e greve de docentes. A formação médica de qualidade tem sido claramente prejudicada nas excelentes faculdades de medicina públicas do estado do Rio de Janeiro. A UERJ, por exemplo, tem seu programa de residência na área de saúde, um dos maiores do Brasil, e programas de extensão prejudicados pelos atrasos dos pagamentos das bolsas.

Não é por acaso que o Brasil enfrenta piora de alguns de seus indicadores de saúde e, novamente, o Rio de Janeiro tem triste liderança desta tendência. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que o Brasil apresentou, nos últimos 8 anos, um aumento de 22% na sua taxa de mortalidade, chegando a 4,2 mortes por 100 mil habitantes em 2015. O estado do Rio de Janeiro, no entanto, apresentou aumento de 46,3% da taxa, chegando a impressionantes 6,57 mortes por 100 mil habitantes no ano passado. Na série histórica iniciada em 2008, somente no primeiro ano a mortalidade fluminense não foi a maior do país, quando o estado de São Paulo liderou a estatística. Se existem vários motivos para estes dados – e nem todos são pontos negativos, é importante frisar – a e a deterioração das instituições de ensino em saúde com certeza detém parte da responsabilidade.

A formação médica de qualidade é peça central dos sistemas locais de saúde. Muito mais de formação de profissionais de saúde, eles ditam as tendências da assistência médica e paramédica de toda região de influência. Não é surpreendente que estatísticas de saúde do país e particularmente do estado do Rio de Janeiro, piorem com o sucateamento das escolas médicas em proporção muito maior que a dos leitos dos seus hospitais universitários. Neste caso, os cortes pontuais de investimentos equivalem a décadas de piores assistência de qualidade na saúde em geral, pública ou privada. Definitivamente, este é um mau negócio.

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