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Bayer comemora 117 anos da patente da Aspirina

Autor: Dr. Bruno Paolino


Há 117 anos, em março de 1899, a companhia farmacêutica alemã Friederich Bayer & Co. recebeu a patente, pelo Escritório Imperial de Patentes de Berlim, da Aspirina como nome comercial do ácido acetilsalicílico. Desde então, a empresa alemã produz e comercializa a medicação que, apesar de antiga, ao longo do tempo se modernizou: se à época era utilizada para o controle da dor e da febre, hoje também é usada como antiagregante plaquetário e pode, no futuro, ser utilizada em alguns tipos de cânceres, segundo estudos preliminares.

A história da medicação vem da Antiguidade. No século V a.C., existem relatos de Hipócrates sobre o pó da casca do salgueiro, que era tomado em forma de chá medicinal para alívio da dor e da febre. O princípio ativo do chá, a salicilina ou ácido salicílico, foi isolado em 1828 pelo farmacêutico francês Henri Leroux e o químico italiano Raffaele Piria. Em 1853, o químico francês Charles Frédéric Gerhardt conseguiu acetilar a salicilina, o que mantinha as propriedades medicinais e diminuiu de maneira significativa os efeitos colateriais do composto ao estômago. Porém, o ácido acetilsalicílico produzido era impuro e não conseguia ser utilizado de maneira comercial. Somente em 1897, se conseguiu ter o processo de produção do ácido acetilsalicílico de forma pura. Há controvérsias sobre quem havia conseguido o feito, que é creditado oficialmente ao químico alemão Felix Hoffman, mas reclamado também pelo químico judeu alemão Arthur Eichengrün. A Bayer deteve a patente do ácido acetilsalicílico até 1917, quando o vendia em pó ou em tabletes de 1g. Uma das armas de propaganda da companhia nesta época era informar que a droga não tinha efeito sobre o coração.

De fato, a droga não afeta o coração de forma como os outros anti-inflamatórios não esteroides. No entanto, não se sabia, ao fazer a propaganda, que o ácido acetilsalicílico faria sim um efeito – mas benéfico – ao miocárdio. O estudo ISIS-2, publicado na Lancet em 1988 , demonstrou diminuição significativa de 23% da morte cardiovascular com o uso do ácido acetilsalicílico isoladamente em dose de 80-160mg/dia, na comparação com o placebo. Este estudo, com mais de 17 mil pacientes, revolucionou o uso da Aspirina. Mas a droga parece ter efeito protetor também sobre a incidência geral de cânceres . Novos estudos estão sendo publicados em pacientes com doença cardiovascular e uso de Aspirina demonstrando incidência menor de cânceres de cólon e próstata . Porem, estes estudos são observacionais, seguindo por vários anos coortes de pacientes de estudos da cardiologia. Pode ser que haja, nos próximos anos, outras indicações do uso do ácido acetilsalicílico, após estudos intervencionistas definitivos e mudanças de diretrizes.

Portanto, tanto a Bayer quanto toda a comunidade médica e a população tem muito a comemorar com o aniversário da patente desta droga. Pouquíssimas marcas na medicina tiveram tamanha aceitação ao ponto de virarem sinônimo do próprio princípio ativo e poderem ser citadas em estudos clínicos e eventos científicos. E o ciclo da Aspirina, que dura tantas décadas que ultrapassou um século, parece que está longe do fim.

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Randomised Trial of Intravenous Streptokinase, Oral Aspirin, Both, or Neither Among 17 187 Cases of Suspected Acute Myocardial Infarction: ISIS-2", Lancet 1988;332(8607):349–60.

Wise J. Long term aspirin may reduce overall cancer risk. Brit Med J 2016;352:i1319.

Rothwell PM, et al. Long-term effect of aspirin on colorectal cancer incidence and mortality: 20-year follow-up of five randomised trials. J Am Med Assoc 2010;376(9754):172-50.

Lapi F, et al. Risk of prostate cancer in low-dose aspirin users: A retrospective cohort study. Int J Cancer 2016. doi: 10.1002/ijc.30061.



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