Notícias
 

Formandos em medicina terão prova para receberem o CRM

Autor: Dr. Bruno Paolino


O governo federal implantou um processo de avaliação da qualidade dos estudantes de medicina no Brasil, a Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina (ANASEM). Este processo se iniciou em 2015 e prevê que, a partir de 2020, os alunos que concluam a graduação só consigam autorização para inscrição nos conselhos regionais de medicina e atuação como médico após aprovação no exame. A estratégia, que se assemelha em alguns pontos com o tradicional exame da OAB entre os formandos em direito, já causa polêmica entre especialistas.

Segundo o ministério da educação, que coordena o processo, a avaliação é obrigatória em todas as escolas médicas do Brasil e consiste em três provas para estudantes que completem o 2o, 4o e sexto anos. As duas primeiras avaliações são teóricas, de caráter pedagógico e vão abranger os conteúdos que os alunos devem ter nos respectivos estágios de aprendizado. Já a terceira prova terá uma parte teórica e uma prática, será nos moldes do Revalida - exame que certifica diplomas expedidos no exterior – e o aluno que não tiver a nota mínima não poderá atuar como médico. Os reprovados poderão se submeter à prova seguinte, que terá uma periodicidade de 6 meses. As provas serão iguais para todas as escolas e aplicadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Entre os benefícios da estratégia, está a possibilidade de fazer um ranking de todas as escolas médicas do país a partir das notas obtidas pelos seus alunos. Este ranking poderia ser um estímulo à competição saudável pela melhor qualidade do ensino e, posteriormente, uma forma de escolha para distribuição de recursos baseado no mérito. Além disso, programas de residência e pós-graduação podem considerar a prova para seleção dos novos residentes. Há ainda uma segurança maior sobre a qualidade do profissional que sai das escolas médicas, principalmente pela preocupação após a abertura indiscriminada de faculdades de medicina que ocorreu nos últimos anos.

No entanto, algumas críticas podem ser feitas ao sistema. A principal delas é que o exame pode, assim como acontece pelas provas de residência médica, afastar a atenção do aluno de uma das partes mais importantes do curso médico: o internato, quando o aluno pode solidificar na prática os conteúdos aprendidos nas aulas teóricas. Desta forma, falta comprovação de que esta medida trará resultados práticos de melhor qualidade dos médicos do país. Ainda há a oposição dos que acreditam que o recrudescimento das regras para o ensino médico contrasta com a dispensa da mesma exigência no serviço militar obrigatório para formandos em medicina ou no principal programa governamental para a saúde, o Mais Médicos, que dispensa o Revalida para médicos estrangeiros.

Em conclusão, todas as políticas que levem ao aumento da qualidade do ensino, em qualquer área do conhecimento e em qualquer instância, devem ser encorajadas. No entanto, há de se perceber que nem sempre a estratégia para aumentar a qualidade do ensino passa por grandes projetos ou mudanças drásticas. Uma das melhores formas de se fazer isso na área médica no Brasil passa pelo maior investimento nas faculdades públicas e nos hospitais universitários de todo o país, a maioria sucateados e com finanças combalidas. A sociedade necessita de melhores profissionais e os alunos precisam de melhores condições para alcançarem os anseios da população. E, neste sentido, não há qualquer polêmica.

Desenvolvido pela Diretoria de Tecnologia da SBC - Todos os Direitos Reservados
© Copyright 2009 | Sociedade Brasileira De Cardiologia | Tecnologia@cardiol.br