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O custo da interiorização da saúde nos EUA

Autor: Dr. Bruno Paolino

Referência: Regenstein M, et al. The Cost of Residency Training in Teaching Health Centers. N Engl J Med 2016 DOI: 10.1056/NEJMp1607866
 
Não é somente o Brasil que enfrenta dificuldades para levar profissionais de saúde para a atenção primária, principalmente em zonas rurais e nos locais de mais baixa renda. Nos Estados Unidos, políticas tem sido implementadas para adequar a distribuição da força de trabalho no sistema de saúde. E a revista científica New England Journal of Medicine publicou, na sua edição de 29 de junho, que este caminho, assim como no Brasil, não é fácil e nem barato para ser custeado pelo governo.

Em resposta à crescente demanda por serviços de atenção primária trazida pelo programa chamado Ação de Cuidado Acessível (ACA – Affordable Care Act), instituído para aumentar o número de médicos e dentistas designados para atendimentos primários nas comunidades, o governo norte-americano desde 2011 autorizou a criação de residências (GME – Graduate Medical Education) em centros de ensino de pequenos centros urbanos (THC – Teaching Health Centers). Os THCs estabeleceram programas de GME seguindo um modelo que enfatiza o treinamento no que a comunidade do entorno demanda, aumentando a capacidade de atendimento. Atualmente, 59 THCs treinam 690 residentes em 6 especialidades de atendimento primário em 27 estados norte-americanos e no distrito de Columbia. Os residentes se beneficiam do treinamento, a população que tem um problema crônico de falta de profissionais se beneficia do atendimento e os THCs se beneficiam do aumento das receitas pelos atendimentos e com o financiamento do governo.

Mas o maior problema é, justamente, o financiamento do projeto. O governo já custeou 230 milhões de dólares no projeto através do Medicare, o sistema de saúde do governo norte-americano. Os pagamentos dos GMEs são baseados no número de residentes, de leitos e de leitos.dia ocupados por pacientes do Medicare. O governo pagava 150 mil dólares por residente até 2015, quando o congresso americano diminuiu o custeio do programa para 60 milhões de dólares por ano, o que levou à redução do valor pago aos THCs para USD 95 mil/ano para cada residente dos GMEs. Os custos dos profissionais em formação (salário dos residentes, compensações financeiras aos preceptores, suprimentos, infra-estrutura, custos administrativos e seguro) foram aferidos em cerca de USD 244 mil/residente/ano. Mesmo com o aumento mediano de receitas dos THCs em aproximadamente USD 46 mil/ano com o trabalho dos residentes em 2013/2014 (USD 46.535,00 para todos os programas, sendo USD 31.503,00 em novos programas e USD 111.267,00 programas em expansão), há uma clara defasagem dos valores que pode levar os THCs – e consequentemente, os programas de GMEs – ao insucesso. Na opinião do autor do artigo, pela adequação dos valores para 2017 e com a maturidade do programa, o retorno dos custeio para USD 150 mil/ano/residente seria suficiente para manter os GMEs.
 
Uma estratégia holística e transparente do programa, com financiamento adequado aos THCs, pode manter a viabilidade financeira de uma política que tem o objetivo de adequar o ensino médico às demandas da população. Os escassos recursos para o custeio do ensino e da saúde da população devem ser gastos com inteligência, baseados em estudos minuciosos e bem conduzidos. Definitivamente, as dificuldades norte-americanas para manter a saúde dos mais pobres e mais afastados dos grandes centros são um retrato do mesmo problema no Brasil e em todo mundo. Porém, as estratégias para solucionar o problema com racionalidade não são seguidas por aqui.

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