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Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: encargo e desafios atuais
Dra. Mônica Ávila
Referência: Maria Inês Schmidt, Bruce Bartholow Duncan, Gulnar Azevedo e Silva, Ana Maria Menezes, Carlos Augusto Monteiro, Sandhi Maria Barreto, Dora Chor, Paulo Rossi Menezes
Chronic non-communicable diseases in Brazil: burden and current challenges.
Lancet 2011; DOI:10.1016/S0140-6736(11)60135-9.
A revista “Lancet” de 9 de maio de 2011 traz uma série especial sobre a saúde no Brasil, e este é um dos estudos que compõe a série.
As doenças cônicas não transmissíveis têm se tornado prioridade na saúde do Brasil, visto que 72% de todas as mortes de 2007 foram decorrentes destas doenças, que são: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, diabetes, câncer e doenças renais. Isso contrasta com a década de 30, na qual a maior causa de óbitos era as doenças infecciosas (46%), que hoje contribuem com 10% somente. Essa mudança ocorreu dentro de um contexto de desenvolvimento social e econômico. Em paralelo, houve uma mudança na pirâmide etária, com uma transição demográfica que fez o Brasil aumentar o número de adultos e idosos. Tudo isso contribuiu para uma maior suscetibilidade para essas doenças não transmissíveis.
As doenças cardiovasculares (DCV) estão em declínio no Brasil, com uma queda de 31%, provavelmente como resultado do melhor controle do tabaco e do maior acesso aos cuidados primários. Entretanto, a taxa de mortalidade ainda permanece entre as mais altas da América do Sul (286 por 100.000 pessoas em 2004). Em comparação, a taxa de morte por DCV nos EUA é de 179 por 100.000 e de 175 por 100.000 no Reino Unido. No Brasil, o declínio da taxa de mortalidade é maior pelas doenças cerebrovasculares, com queda de 34%. A mortalidade por doença isquêmica do coração diminuiu 26% durante a última década. Entretanto, as mortes por doença cardíaca hipertensiva aumentaram em 11% durante este período.
Em indivíduos com 60 anos ou mais de idade, mais de um quarto de todas as internações em 2007 foram por doenças cardiovasculares. Neste grupo etário, a insuficiência cardíaca congestiva foi a causa mais comum de internação hospitalar.
Dados nacionais de 2008 indicam que 24% das mulheres e 17% dos homens acima dos 20 anos têm diagnóstico de hipertensão arterial, número que aumenta para 50% ou mais em homens e mulheres com mais de 60 anos. A hipercolesterolemia é igualmente prevalente, observada em 22% dos adultos, e em 33% para os maiores de 45 anos.
Outros dados demonstram crescimento da incidência auto-referida de diabetes, um aumento de 3,3% em 1998 para 5,3% em 2008. A taxa de mortalidade por diabetes caiu de 11% em 2000 para 8% em 2007. Entretanto, avaliando atestado de óbitos, houve um aumento de 8% da relação do diabetes com a causa da morte.
Em relação às doenças oncológicas, os cânceres de pulmão, próstata e colorretal estão aumentando em homens, enquanto o câncer gástrico está em declínio. Em mulheres houve um aumento nos cânceres de mama, pulmão e colorretal, e os cânceres cervical e gástrico diminuíram. Houve um declínio na mortalidade geral por câncer atribuído a melhora no rastreamento.
A prevalência de fumantes caiu de quase 35% em 1989 para 17,2% em 2009. Houve uma grande variação entre o nível educacional: 25% das pessoas com menos de 1 ano de formação educacional são fumantes, enquanto 11% tem formação de 11 anos ou mais.
Entre outros fatores de risco, o alcoolismo esta aumentando, assim como a mortalidade por desordens mentais ou por comportamento devido ao abuso do álcool (21%). Só recentemente o Brasil tem realizado pesquisas sobre atividade física e os níveis de dieta, mas estudos recentes sugerem que os adultos brasileiros estão ficando mais pesados, com aumento da obesidade de 11% para 13%.
O artigo conclui demonstrando que os ganhos no combate à doença cardiovascular podem não se sustentar, visto que a maior parte dos principais fatores de risco requer medidas adicionais mais enfáticas, especialmente na forma da legislação e regulamentação.