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Polipílula demonstra bons resultados para a prevenção primária de eventos cardiovasculares

Autora: Dra. Thaís Pinheiro Lima

Revisado por: Dra. Fernanda Seligmann Feitosa

Foram publicados recentemente os resultados do primeiro estudo fase II, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo envolvendo a polipílula. A hipótese testada foi que a medicação, usada para prevenção primária, reduziria em 50% a incidência de eventos cardiovasculares e AVC. Essa primeira fase envolveu a participação de sete países, entre eles o Brasil, com financiamento do Ministério da Saúde.

A polipílula consiste na associação de quatro componentes (AAS 75mg, lisinopril 10mg, hidroclorotiazida 12,5mg e sinvastatina 20mg), em doses fixas, num mesmo comprimido. No estudo fase II foram randomizados 378 pacientes que não apresentavam nenhuma indicação ao uso dos componentes acima descritos, mas que tinham risco de 7,5% de desenvolver doenças cardiovasculares em 5 anos, pelos critérios de Framingham. O objetivo primário foi composto por: redução da pressão arterial sistólica, redução do LDL colesterol, presença de efeitos colaterais e aderência ao tratamento no seguimento de 12 semanas.

O uso da polipílula resultou em redução de 9,9mmHg na pressão arterial sistólica e de 0,8 mmol/L no LDL colesterol. Entretanto, houve maior incidência de efeitos adversos no grupo polipílula em comparação ao grupo placebo (58% vs 42%; p=0,001). Quanto à aderência, 23% dos pacientes do grupo polipílula tiveram má aderência, em comparação com 18% do grupo placebo (RR 1,33; IC 95% 0,89 a 2,00; p=0.2). Os autores estimaram que, se o tratamento fosse continuado por longo prazo, haveria uma redução aproximada de 60% no risco de doença cardiovascular e AVC isquêmico. No entanto, isso implicaria em aumento d a incidência de sangramentos, principalmente de origem gastrointestinal, em decorrência do uso de AAS.

Em breve será iniciado um estudo fase III, envolvendo mais de 2000 pacientes em 22 hospitais brasileiros; dessa vez, entretanto, a medicação será utilizada como prevenção secundária. O uso da popipílula é bastante controverso, com vantagens e desvantagens. Os principais argumentos favoráveis são a diminuição dos custos e a otimização da aderência medicamentosa pelo paciente, com redução do risco de eventos cardiovasculares. Todavia, alguns especialistas acreditam que este conceito de polipílula irá prejudicar a boa prática médica, através da perda da individualização do tratamento e da dose ótima para cada paciente, já que muitos irão tomar medicamentos desnecessários contidos em doses fixas nestas pílulas. O que se sabe em relação a este novo conceito é que ainda há muito a ser discutido até atingirmos o equilíbrio entre os vários interesses, em benefício do paciente.

Referência: PILL Collaborative Group (2011) An International Randomised Placebo-Controlled Trial of a Four-Component Combination Pill (‘‘Polypill’’) in People with Raised Cardiovascular Risk. PLoS ONE 6(5): e19857. doi:10.1371/journal.pone.0019857.

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