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A polêmica “falta de médicos” no Brasil
Autor: Dr. Bruno Paolino
Vários canais de comunicação tem veiculado os esforços do governo para
resolver o problema da escassez de médicos no interior do Brasil. A primeira
medida tomada pelo governo foi o Programa de Valorização da Atenção Básica (Provab),
que objetiva a contratação de médicos recém-formados para atuação em cidades do
interior ou da periferia de grandes cidades. Em troca, o médico que trabalhasse
pelo Provab por mais de 1 ano teria direito a 10% de bônus nas provas de
residência médica. Após o fracasso do programa – das 7193 vagas em 1228
municípios do Brasil, foram contratados apenas 1640 médicos em 1005 municípios,
o que manteve 223 cidades sem médicos – o governo estuda novas medidas, como
aumentar o número de vagas nas faculdades mais bem conceituadas, aumentar o
número de escolas e de residências médicas no Brasil, além de facilitar a
validação de diplomas de faculdades estrangeiras de países como Cuba, Bolívia e
Argentina.
O fato é que, definitivamente, a péssima distribuição dos profissionais pelo
território brasileiro é um fator muito mais importante que o possível déficit no
número absoluto de médicos. Em novembro de 2011, o Conselho Feredal de Medicina
(CFM) publicou o estudo “Demografia Médica no Brasil”, que mostra que o país
conta com mais de 371 profissionais formados, o que perfaz uma taxa de 1,95
médicos para cada mil habitantes brasileiros. Este valor é quase o dobro do
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 1 médico para cada
mil habitantes. Contudo, a distribuição destes profissionais pelo território
nacional é desastrosa: enquanto cidades como Niteroi/RJ, Barueri/SP, Belo
Horizonte/MG e Porto Alegre/RS tem uma taxa de 4 médicos/1000 habitantes, 2130
municípios que não conseguem manter ou expandir o Programa da Saúde da Família,
26 municípios não possuem qualquer médico de família e 4 municípios não tem um
único profissional, com ou sem especialidade. O governo quer aumentar a taxa de
médicos para 2,5/mil habitantes até 2020.
Mesmo com salários que chegam a R$ 33.500,00, como o de uma prefeitura no Amapá,
muitas cidades não conseguem atrair profissionais e ficam boa parte do ano sem
médicos para atender a população. Entre as causas deste cenário, está a
excessiva concentração de faculdades de medicina nas capitais, a falta de
infraestrutura para a prática médica nas cidades do interior, as dificuldades de
reciclagem e aperfeiçoamento fora dos grandes centros e o afastamento do mercado
de trabalho na região nativa do profissional. Sem atacar estes pontos chaves, o
esforço do governo pode não surtir o efeito desejado – e pode, inclusive,
aumentar o problema. Por este motivo, o CFM acredita que a solução passe pela
implantação do plano de carreira do médico do SUS semelhante à de promotores,
juízes e militares. Desta forma, o médico recém-contratado é mandado para o
interior com a certeza de melhores salários e um retorno à capital após alguns
anos. A proposta já foi discutida anteriormente, mas não foi adiante no
congresso nacional.
O CFM, a Associação Médica Brasileira e a Federação Nacional dos Médicos são
contra as propostas estudadas pelo governo e querem se reunir com os mininstros
da saúde, Dr. Alexandre Padilha, e da Educação, Aloísio Mercadante, para
participar do processo.