Notícias
Vacina anti-tabagismo
Autor: Dr. Bruno Paolino
Referência: Martin J. Hicks et al. AAV-Directed Persistent Expression of a Gene
Encoding Anti-Nicotine Antibody for Smoking Cessation. Sci Transl Med 2012; 4:
140ra87.
Um grupo de pesquisadores da Universidade de Cornell, nos EUA, publicou esta
semana um estudo na revista Science Translational Medicine que testou uma vacina
contra a nicotina em camundongos. A vacina foi capaz de diminuir em 85% a
concentração de nicotina no cérebro dos animais do grupo intervenção, comparados
aos controles.
O estudo foi realizado em camundongos experimentais viciados em nicotina. Os
pesquisadores selecionaram um potente anticorpo anti-nicotina em um camungondo e
individualizaram o gene associado a ele. Este material genético foi introduzido
no genoma de um adenovírus carreador e este vetor foi inoculado nos camundongos
da pesquisa. Os camundongos do grupo controle foram inoculados com o adenovírus
sem o gene.
No grupo intervenção, foram observados altos títulos de anticorpos anti-nicotina
até a última dosagem, 18 semanas após a inoculação da terapia gência. Os
pesquisadores, então, injetaram nicotina por via venosa e, nos ratos do grupo
intervenção, houve uma ligação de 83% da nicotina aos anticorpos IgG e uma queda
de 85% dos níveis cerebrais de nicotina, quando comparados ao placebo
(p<0,0001). Nos ratos do grupo intervenção, não houve variação dos parâmetros
cardiovasculares e de locomoção após a administração de nicotina, diferentemente
dos ratos controle, que obtiveram 37% de queda na pressão arterial média, 25% de
queda dos níveis de pressão arterial e diminuição do padrão de locomoção
induzido pela nicotina.
Apesar de estar em fase experimental, o estudo teve uma repercussão muito grande
no meio científico, dado o tamanho do problema do tabagismo no mundo. Segundo a
organização mundial de saúde, 1/3 da população mundial é tabagista e 6 milhões
de pessoas morrem anualmente em decorrência do cigarro. O mais grave é que,
destes, 10% são de tabagistas passivos, os que nunca fumaram. No Brasil, dados
do ministério da saúde mostram uma prevalência de 14,8% de tabagistas na
população, o que equivale a 25 milhões de pessoas. Segundo a ONG Aliança de
Controle ao Tabagismo, o gasto público ou privado com doenças relacionadas ao
cigarro chegou a R$ 21 bilhões em 2011, valor correspondente a cerca de três
vezes e meia o que o governo arrecada com os produtos derivados do tabaco e 30%
do montante destinado ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Portanto, a vacina anti-nicotina foi testada com sucesso entre os camundongos e
iniciará os testes na população humana. Não há dados consistentes até o momento
que assegurem que o nível sérico de anticorpos será suficiente para inibir a
sensação de prazer desencadeada pelo tabagismo em humanos. No início, os testes
serão feitos nos pacientes com neoplasias terminais e em pacientes HIV-positivos.
Os pesquisadores acreditam que a terapia gênica deve ser utilizada da mesma
forma que as vacinas convencionais, para pacientes em idade jovens e sem o
tabagismo, para que não haja a inicialização do vício. Possivelmente, os efeitos
relacionados à abstinência ao tabagismo serão maiores nos pacientes adictos que
receberem a terapia, mas não há dados para comprovar estas hipóteses. Um longo
caminho ainda existe para a medicina e o mundo se livrar dos efeitos nocivos do
tabagismo.