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Afogamento: uma questão de prevenção

Texto adaptado de Dr. David Szpilman*

Cerca de 500 mil pessoas morrem afogadas todos os anos ao redor do mundo. As maiores vítimas são as crianças, já que mais de dez milhões de crianças entre 1 e 14 anos são internadas como vítimas de afogamento anualmente e, destas, uma a cada 35 tem como desfecho o óbito. No Brasil, o quadro é semelhante: sete mil pessoas morreram afogadas em 2009 e o afogamento foi a segunda causa de mortalidade global na faixa etária de 1 a 9 anos, a terceira entre 10 e 19 anos e a quarta na faixa dos 20 aos 25 anos.

O afogamento ocorre de forma acidental, geralmente em situações de lazer, quando poucos cogitam a possibilidade de uma tragédia. São situações que nos remetem ao acaso e, portanto muito difíceis de serem evitados. Porém, afogamentos não são acidentes, não acontecem por acaso. É importante ressaltar que eles são passíveis de medidas preventivas, que são a melhor forma de tratamento!

Esta situação alarmante e pouco divulgada inspirou o The New England Journal of Medicine a publicar um artigo de revisão sobre afogamento em edição recente, que alerta para importantes questões:

• Os registros de afogamento em todo o mundo subestimam o número total de mortes, e não contabilizam situações catastróficas, como enchentes, tsunamis e acidentes de barcos como parte do problema.

• O maior fator de risco para a morte por afogamento é a falta (ou o descuido) na supervisão de crianças por um adulto. Quando comparamos o risco de óbito por afogamento ao risco por acidente de trânsito, o afogamento chega a ter um risco 200 vezes maior.

• A segurança na água provida por salva-vidas não substitui a supervisão dos pais ou responsáveis.

• Se a prevenção falhar, a vítima que é resgatada a tempo de evitar a aspiração de água pode ser liberada diretamente do local do acidente. Mas se o processo de afogamento não for interrompido, a impossibilidade de conseguir oxigênio rapidamente leva à parada respiratória e, em seguida, à parada cardíaca.

• Pessoas sem habilidade para ajudar se podem se afogar e até morrer tentando salvar outras vítimas de afogamento. Para estas pessoas, a melhor forma de ajudar é chamar um salva-vidas.

• Diferentemente das paradas cardíacas que ocorrem fora da água, o afogamento necessita de ventilação boca-a-boca e as novas medidas de “somente compressão” trazem menos benefícios na hora de ressuscitar.

• Como mensagem mais importante, o artigo estima que 85% dos afogamentos no mundo poderiam ser evitados através da supervisão e que todo caso de afogamento sinaliza a falha na prevenção, a intervenção mais importante de todas.

A Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático) propôs há mais de 10 anos um projeto de lei federal para aumentar a segurança em áreas espelhadas (Projeto de Lei 1685/03), mas ainda não conseguiu sua aprovação.

Alguns serviços de salvamento tem demonstrado cientificamente como é benéfica a realização de programas de prevenção com crianças, e conseguiram uma importante redução no número de óbitos, então porque não multiplicá-los?

Referencias:

1. David Szpilman, Joost Bierens, Anthony Handley, & James Orlowski. Drowning: Current Concepts. N Engl J Med 2012;366:2102-10.
2. David Szpilman. Afogamento - Perfil epidemiológico no Brasil - Ano 2012. Publicado on-line em http://www.sobrasa.org, Fevereiro de 2012.

*Dr. David Szpilman – diretor-médico e fundador da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) e Chefe do CTI do Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio de Janeiro.

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