Notícias
 

Será que podemos confiar no nosso repórter?

Autora: Dra. Mônica Samuel Avila

Foi publicado recentemente no jornal Estado de São Paulo um artigo questionando algumas indicações médicas sobre tratamento da doença arterial coronariana estável e até sugerindo condutas antiéticas favorecendo médicos financeiramente, dependendo da conduta.

O artigo se baseia no estudo COURAGE que foi publicado em 2007 no The New England Journal of Medicine e que demonstrou que, em pacientes com doença arterial coronária crônica, o tratamento percutâneo não adicionou vantagem em relação a mortalidade e infarto ao tratamento clínico otimizado. Sabemos que o estudo COURAGE foi muito importante na cardiologia, que trouxe algumas respostas, que, como todos os ensaios clínicos, tem suas limitações e críticas e que existiram em conjunto outros estudos que encontraram as mesmas respostas.

Os ensaios clínicos ajudam a montar as diretrizes para orientação da pratica clínica. Entretanto, é muito comum encontrarmos pacientes e circunstâncias diferentes das encontradas nos estudos, que levam ao médico ter que tomar condutas individualizadas.

Esse é o caso do tratamento da doença arterial coronariana estável. Existem muitos estudos tentando encontrar o melhor tratamento e apesar de, no contexto geral, as duas condutas (tratamento percutâneo e clínico) não apresentarem diferenças nas taxas de mortalidade ou infarto, existem muitos subestudos que encontram subgrupos de pacientes que se beneficiariam de uma ou outra terapia. E, por esse tema ser tão complexo, muitos cardiologistas tomam condutas consideradas equivocadas por não conhecer todas as evidências clínico-científicas.

Não podemos, é claro, garantir que todos os cardiologistas e médicos em geral, tomem condutas por seu próprio conhecimento e avaliação. Sabemos que existem parcerias entre médicos e a indústria e que isso pode prejudicar uma medicina de excelência e, na prática, o paciente. Porém, em uma publicação de um jornal de grande circulação e acesso, como é no Estado de São Paulo, um repórter sugerir que o médico seja “colocado contra a parede’’, que seja questionado sobre ganhos financeiros em cima de condutas tomadas por ele e até sugerir uma auditoria, isso é um pouco agressivo”. Toda relação médico paciente é construída e se baseia na confiança e respeito. Um paciente que entra no consultório com essa postura sugerida pela reportagem estaria acabando com qualquer relação saudável entre o mesmo e seu médico.

Referência: http://blogs.estadao.com.br/ricardo-guerra/sera-que-voce-pode-confiar-no-seu-cardiologista/

Desenvolvido pela Diretoria de Tecnologia da SBC - Todos os Direitos Reservados
© Copyright 2009 | Sociedade Brasileira De Cardiologia | Tecnologia@cardiol.br