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Prefeitura de SP restringe acesso a Ritalina na rede pública
Autor: Dr. Bruno Biselli
Uma portaria da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo restringiu a
distribuição na rede pública do metilfenidato – conhecido como Ritalina – usado
como terapia de escolha no tratamento de transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH).
Nos últimos anos, o aumento do uso de Ritalina virou alvo de intensa discussão.
Além das criticas quanto aos critérios utilizados para a prescrição em crianças
com diagnóstico errado de TDAH, o consumo da droga, que é vendida no mercado
negro sem receita, aumentou entre jovens e adultos saudáveis que a utilizam como
estimulantes e para aumentar o rendimento intelectual. O Brasil é o segundo
maior consumidor de Ritalina no mundo. Nos últimos 10 anos, o consumo da droga
aumentou 775%, segundo pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ).
Com a portaria, o tratamento medicamentoso com a Ritalina só será considerado
após o paciente ser submetido a uma avalição multidisciplinar em Centros de
Atenção Psicossocial (CAPs) infantil, envolvendo neurologistas, psiquiatras,
psicólogos e fonoaudiólogos que solicitarão exames e preencherão formulários
sobre a saúde física e psicossocial, além de dados familiares e escolares do
paciente. Dessa forma, somente a decisão médica para início de terapia
medicamentosa para o TDAH ficará invalidada na cidade de São Paulo.
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) se posicionou contra a medida.
Segundo a ABP, as crianças mais pobres serão prejudicadas devido à
burocratização ao acesso a terapia medicamentosa. Houve criticas também em
relação à perda da autonomia médica em retirar a prescrição de um medicamento do
médico que assistiu ao paciente. Apesar da principal justificativa da medida ser
a diminuição do uso indiscriminado da Ritalina, os especialistas da ABP alertam
para a presença de subdiagnóstico e um subtratamento dos pacientes portadores da
doença, uma vez que apenas 19% dos brasileiros com TDAH utilizam a terapia
farmacológica. Assim, um acesso mais facilitado à medicação poderia adequar a
proporção de indivíduos com o transtorno e pacientes tratados.
Esta discussão certamente não acabará com esta portaria da secretaria municipal
de São Paulo. Há de se esperar os resultados da aplicação da lei para medir o
seu impacto no consumo da medicação e no tratamento dos pacientes com TDAH. Está
claro que tanto o tratamento da doença quanto o consumo da droga não estão
adequados, resta saber qual a melhor medida para essa adequação.