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Você perderia meses de vida para não tomar medicações de prevenção primária diariamente?
Comentário: Dra. Glaucylara Reis Geovanini
Especula-se que o uso de medicamentos diários de profilaxia primária para
doenças cardiovasculares em algumas populações poderia aumentar em meses ou até
alguns anos a sobrevida desses indivíduos. Entretanto, o uso dessas medicações
diariamente por muitos anos, além de ter um custo financeiro, pode estar
relacionado a diminuição de qualidade de vida pelo uso de medicações diárias e
eventos adversos relacionados às drogas.
Dessa forma, um estudo americano avaliou a utilidade do uso diário de medicações
de prevenção primária para doenças cardiovasculares. O estudo foi conduzido por
entrevista através da internet, com 1000 americanos com mais de 30 anos de idade
avaliando a custo-efetividade do uso diário de medicações para prevenção de
doenças cardiovasculares. A média de idade dos respondedores foi de 50 anos,
maioria do sexo feminino e da raça branca e cerca de 80% faziam uso diário de
pelo menos um medicamento (ex: AAS, estatinas, antihipertensivos), sendo que 54%
faziam uso de pelo menos 3 medicações. Aproximadamente 70% dos respondedores
indicaram que não estariam dispostos a perder anos de vida em troca de parar de
tomar as medicações diárias, no entanto, 8,2% responderam perderiam até 2 anos
de suas vidas em troca de parar de tomar medicamentos diariamente. No geral, os
respondedores pagariam cerca de US$ 1.445,00 para não terem que tomar mais
medicamentos diariamente e cerca de 3% pagariam até quantias muito maiores como
(US$ 25 mil) para evitar o uso diário de medicações. De forma interessante, 41%
não pagaria nenhum valor em dinheiro por esta troca.
Na análise de utilidade, realizada por 3 métodos pelos investigadores, o uso
diário de medicações para prevenção cardiovascular foi “custo-efetivo”. Apesar
de algumas diferenças entre idade, sexo e raça (por exemplo: o sexo masculino
estaria mais disposto a perder meses de vida, em troca de não ter que tomar
medicações diariamente), os resultados foram adequados quanto ao valor da
utilidade desta prática.
Os resultados desse estudo reforçam o benefício no investimento e pesquisa na
área de prevenção primária para doenças cardiovasculares como uso de AAS e
estatinas, incluindo o decremento da utilidade quando se para essas medicações
por eventos adversos.
Referência: Hutchins R, Viera AJ, Sheridan SL, Pignone MP. Quantifying
the utility of taking pills for cardiovascular prevention. CircCardiovascQual
Outcomes 2015; DOI:10.1161/CIRCOUTCOMES.114.001240.